Rio do Norte

Quando arranjei coragem vesti-me e levei a minha mãe ao local onde iamos espalhar as cinzas, sim, ele sempre tinha dito que queria ser cremado e eu ia-lhe fazer a vontade. Uma coisa que não queria que acontecesse era que muita gente viesse ao funeral, porque era só de familia e para... ela se eventualmente quisesse ver, mas eu compreendia. No entanto, estavam no local cerca de noventa pessoas incluindo jornalistas. Não queria que eles aparecessem já, mas isso acabou por acontecer.

Não foi dificil saber o sitio onde o Axl e a familia iam estar porque o que não faltavam eram curiosos e jornalistas.
Mantive-me à distância atrás de bastantes pessoas e mordi o lábio inferior enquanto os via ali. Queria ir ter com o Axl e abraçá-lo e nunca mais o largar, mas não podia.
Mantive-me escondida porque era a única maneira de estar ali, ou voltaria a metê-lo em perigo e nunca mais me perdoava.

Olhei para trás quando vi mesmo uma grande quantidade de jornalistas e mordi o lábio. Podia não querer isto agora, mas era a minha oportunidade. Antes de deitar as cinzas ao rio eu ia mostrar a minha revolta, nem que fosse só com uma ou duas palavras.
Benny estava ao meu lado, um bocado alheio a tudo. Ele era pequenino, não conhecia bem o Xavier porque a minha mãe e ele tinham-se chateados já eu andava em Milão. Mas eu conhecia-o bem, mais que bem, e ainda não acreditava que isto lhe tinha acontecido. Cerrei o maxilar e respirei fundo abanando a cabeça e colocando-me mais alto que todos. Eles que estivessem com atenção porque eu ia falar, e mais tarde iria procura-lo.

Continuei de cabeça baixa no meio daquela multidão e abanei a cabeça quando vi o Axl. Ele ia fazer um escândalo, eu já sabia, já o conhecia tão bem - Não faças nada disso, Axl. - murmurei continuando a segui-lo com o olhar.

Suspirei baixando o olhar para a jarra e engoli em seco sentindo todas as pessoas a olharem para mim.
-O.. - calei-me e abanei a cabeça - Eu vou descobrir quem o pôs aqui - disse levantando um pouco a jarra e vi a minha mãe arregalar os olhos e abanar a cabeça.
-Desce daí Axl - pediu ela. Abanei a cabeça novamente e abri a tampa
-Ele ia querer isso. - virei-me de costas com o queixo a tremer e mandei aos poucos as cinzas para a água.

Abanei a cabeça quando o ouvi e cerrei o maxilar com força. Como é que eu podia ir embora? Ele ia arranjar porcaria com os assassinos e se eu não estivesse aqui, não o podia ajudar nem proteger. Só o tinha de fazer à distância. Kim, o anjo da guarda.
- Ouvi dizer que o irmão morreu porque lhe queria tirar o lugar lá na carreira de modelo. - estava uma velha a dizer.
Revirei os olhos e abanei a cabeça - Não têm vida vocês?

A minha mãe veio ter comigo quando eu acabei e coloquei a jarra dentro de água também. Agarrou-me no braço e virou-se para mim.
-Tu não vais fazer nada daquilo Axl, não posso perder mais nenhum de vocês - disse ela. Eu apenas assenti e sentei-me enquanto as outras pessoas iam embora.
-Adeus mãe - disse sabendo que ela estava prestes a ir embora novamente. Dei um beijo na testa de Benny e virei-me para o rio.

Vi as pessoas a começarem a ir embora e mordi o interior da bochecha. Precisava de sair dali antes que ele me visse. Olhei mais uma vez na sua direção e enfiei-me no meio daquelas pessoas todas que iam embora.

Olhei para o meu telemóvel mais uma vez e estive tentado a manda-lo para a água. Ela não respondia, não dizia nada, mas eu também não podia ir atrás dela simplesmente, se ela não fazia nada disso era porque não queria, ou estava ocupada. Não sei. Passei as mãos pela cabeça e fiquei ali tempos intermináveis ouvindo depois o meu telemóvel tocar, mas era apenas um dos meus amigos fixes.

Virei-me de novo para trás para olhar para o Axl no preciso momento em que o vi com o telemóvel na mão. Suspirei baixinho e mordi o lábio inferior. Ele devia estar a odiar-me e por mais que isso me custasse, era bom, era assim que tinha de ser.

Agarrei melhor no telemóvel e atendi.
-Então puto? Eu soube da cena, passa aqui por causa para descontrair - disse um deles, porque na verdade devia estar um monte atrás.
-Não me apetece - respondi apenas.
-Anda lá, só para conversar e tal - levantei-me com um suspiro.
-Não vale a pena. - desliguei colocando o telemóvel no bolso e fui andando a um passo lento até até a casa.