Sala de Dança 1

Senti as chaves da mão e revirei os olhos.
-Dá-me as chaves, eu vou a pé - resmunguei.

- Meu deus que maricas. - devolvi-lhe as chaves e revirei os olhos - Eu vou contigo, ainda adormeces a meio do caminho.

Nem sequer comentei quando ela me chamou de maricas e enfiei as chaves nos bolsos das calças começando a ir à procura do caminho para casa.

- Credo, és mesmo uma animação com sono. - disse completamente irónica. - Podia levar-te a casa na mota, mas não.

-Deixa-me - resmunguei mal humorado, rabugento por causa do sono como os bebés indo a um passo desengonçado mas rápido para chegar a casa.

Pousei o balde a um canto da sala e peguei no pano e no limpa vidros, aproximando-me para limpar o grande vidro da sala. Soltei um suspiro enquanto olhava para a sala através do mesmo e engoli em seco. E lá estava ela incontrolável de novo.
- Olhem quem temos aqui.- desviei o olhar e vi-os através do espelho. Eram os mesmos rapazes que estavam na casa de banho no dia anterior. Revirei os olhos e virei-me para eles.
- O que é que querem, já não aprenderam a lição ontem? - começava a ficar um bocado farta de crianças que não tinham mais nada para fazer se não chatear. Aquele a quem eu tinha batido voltou a sorrir da mesma forma cínica e aproximou-se de mim, despertando a minha atitude defensiva.- já te avisei para não te aproximares.- disse de dentes cerrados e dei um passo para trás, sentindo o meu corpo encostar-se ao vidro. Ele abanou a cabeça, fazendo barulhinhos com a língua e num gesto rápido, agarrou-me no cabelo, puxando-o de forma a deixar-me imóvel.
- Ahh! - gritei com a dor que aquilo provocava e por mais que quisesse, não tinha como me defender. Ele atirou-me para o chão e continuou com o seu sorriso.- vais arrepender-te disto.- murmurei com a respiração entrecortada e ele roçou a ponta do seu pé na minha barriga.
- Eu só me arrependo daquilo que não faço, empregadinha.

Foi como se tivesse sido mágico, não me senti logo completamente bem, mas depois de beber um sumo que ele tinha roubado comecei logo a sentir-me melhor. Passei a mão pelo meu cabelo passando depois pelo dele e vi-o sorrir.
-Toma, fica para ti - disse dando-lhe a outra sandes. Ele assentiu e guardou a comida no casaco. Levantei-me devagar para o caso de me dar outro ataque e cair para o lado.
-Vamos dar uma volta já que estamos aqui - disse ele todo animado. Olhei-o com um suspiro e assenti com a cabeça.
-Está bem, vamos lá. - cedi não muito contente com o facto de me expor no meio de riquinhos.
-O que é aquilo? - apontou para a placa que dizia "salas".
-Tu sabes o que é aquilo, tenta ler - disse olhando-o e ele ficou a morder o lábio.
-Sa-las. - assenti com a cabeça e ele sorriu começando a andar pelo corredor. Olhei para os vidros para ver o interior das salas. Parei quando vi alguém no chão com um grupo de rapazes e engoli em seco ao ver que era a cabrita daquela gaja que não nos deixava em paz e o gajo ela acertar-lhe. Entrei de rompante na sala e ele olhou-me começando a fazer-me logo os peitos. Devia pensar que tinha muitos, eu era magricelas e tinha mais que ele. Dei-lhe um murro em cheio e assim que tive oportunidade agarrei-o pelo pescoço debaixo do meu braço torcendo-o.
-Se me tocam eu mato-o - disse olhando para os amiguinhos e eles afastaram-se. Max correu para a gaja e eu olhei-a. - o que é que aconteceu? - disse não o largando-o. Ele nem se mexia com dores ou com medo que eu lhe partisse o pescoço, mas uma coisa é certa, eu era capaz.

- Quem é que pensas que és para me bateres e continuares com a tua vida como se não tivesses feito nada? - ele gritou-me, o que me fez estremecer. Eu queria levantar-me, queria fazer-lhe frente até o obrigar a ir embora, mas ele tinha-me imobilizado por completo. Soltei um grito quando senti o seu pé embater nas minhas costelas e agarrei-me às mesmas, sentindo os meus olhos inundarem-se de lágrimas.- esta foi por te ter armado em espertinha.- apesar de ter a visão desfocada, conseguia vê-lo a sorrir. O sangue começou a escorrer da minha boca quando um segundo pontapé me fez gritar e eu encolhi-me ainda mais com as dores.- este, foi por me teres batido minha grande cabra.- baixou-se para ficar à minha altura e voltou a agarrar-me pelos cabelos.- sabe bem, não sabe? - soltei um gemido de dor e senti-me desesperar com as dores quando me deu mais um pontapé.- e este, é só mesmo porque me apetece.- contorci-me, apertando a minha própria roupa e soltei um grito de dor.
- Pára.- supliquei.- pára.- repeti e quando ele se preparava para me bater de novo, eu ouvi umas vozes. Eu não conseguia perceber, mas ele tinha parado. Continuei a contorcer-me, tentando parar com as dores e balbuciei qualquer coisa antes de fechar os olhos.

Vi-a a fechar os olhos e cerrei o maxilar.
-Alguém me vai dizer o que é que aconteceu? - gritei apertando mais o seu pescoço. O gajo já estava a ficar vermelho.
-Ela bateu-lhe, ele só se estava a vingar -disse um que ao olhar para o amigo.
-Ela está quase morta - gritei no mesmo tempo e Max ficou a cuidar dela. - Ela deixou-te quase morto quando te bateu? - perguntei ao rapaz e ele tentou falar. - Deixou?- perguntei e ele abanou a cabeça. Virei-lhe o pescoço ao contrário mandando para o chão e os amigos arregalaram os olhos. - Ele não está morto, mas é melhor chamarem uma ambulância - disse revirando os olhos e fui ter com a gaja. Agarrei nela saindo para o exterior e engoli em seco. Eu não a podia levar para o hospital ou eramos encontrados.