Axl's House

Eu estava tão esgotado que apesar de não querer, eu sabia que ia adormecer a qualquer momento. Ouvi Kim a falar-me e percebi o que ela disse, mas fingi que não o fiz porque não queria prometer-lhe uma coisa que sabia que não poderia comprar. Ao fim de pouco tempo, adormeci.

- Ai rapaz, nem sabes a vontade que tenho de te dar uma sova. - resmunguei quando ele fingiu que não me ouviu. Dei-lhe um beijo na cabeça quando percebi que tinha adormecido e puxei uma manta do sofá para cima de nós, ajeitando-me debaixo dele.

Abri os olhos ao mesmo tempo que a campainha tocou. Levantei-me agarrando-me à parede por estar todo atordoado e quando abri a porta vi a minha mãe. Tinha uns olhos verdes como os meus, mas raiados de vermelho por causa do choro. Era tão alta quanto eu por causa dos saltos altos e os seus cabelos pretos estavam presos num rabo de cavalo. Estava a agarrar Benny que não estava a perceber nada do assunto. Mais um que era igual a mim. Parecia mais assustado do que triste, mas assim que me viu sorriu agarrando-se ao meu pescoço.
-Axl - chamou por mim. Agarrei nele quando veio para o meu colo e dei um beijo à minha mãe na testa.
-Olá mãe. - disse baixinho vendo-a sorrir um bocadinho.

Levantei-me do sofá quando ouvi tocarem à campainha e segui o Axl com o olhar quando o vi a andar todo estranho. Mordi o lábio inferior quando vi a mãe e o irmão dele. Precisava de arranjar maneira de me esgueirar agora que ele não estava sozinho. Mas... eu não conseguia fazê-lo.. Pisquei os olhos para controlar as lágrimas, eu não era dessas coisas e agora tinha de me manter forte.
- Boa noite. - murmurei baixinho enquanto olhava para a porta, ainda no mesmo sitio.

A minha mãe olhou para Kim quando a viu e eu mordi o lábio. Ela costumava ser estúpida quando não ia à bola com uma pessoa, mas pelo sorriso que ela mostrou a Kim eu percebi que ela estava triste ou então tinha gostado dela. Fechei a porta indo até ao sofá e sentei Benny no mesmo, ao lado de Kim.
-Boa noite - disse a minha mãe quando se aproximou.
-É a Kim - murmurei sentando-me ao lado do meu irmão.

Voltei a sorrir levemente quando o Axl nos apresentou e olhei para o pequenino - Olá. - disse-lhe baixinho. Eu não me dava com crianças, quer dizer, excepto com a Caroline mas ela era minha irmã. As crianças assustavam-me, especialmente porque eu sabia que não ia ter nenhuma. Era impossivel ser uma assassina fugitiva com um filho. Via-se pelos meus pais.

Benny abriu o seu sorriso e esticou-se até lhe dar um beijinho.
-Olá - disse voltando a sentar-se muito direito e sem perceber nada do que se passava. Olhei para a minha mãe que assentiu e sentou-se ao meu lado sem dizer alguma coisa.
-Assentaste Axl? - perguntou algum tempo depois.

Sorri quando o pequenino me deu um beijinho na bochecha e fiquei com os olhos postos nele. Não me queria meter na conversa entre o Axl e a mãe e precisava de sair dali rápido. Mordi o interior da bochecha e levantei-me.
- Acho que precisam de estar em família por isso... foi um prazer conhecê-la apesar da situação. - disse para a mãe do Axl. Não olhes para ele, Kimberly. Não olhes. - Com licença.

Abanei apenas a cabeça, porque apesar de ter assentado com ela, não era nada oficial e acho que ela não sabia disso. Levantei a cabeça quando vi Kim e levantar-se e dizer que se ia embora.
-Kim... - chamei.

Oh por amor de deus. Virei a cara para ele quando me chamou e mordi o interior da bochecha - Diz, Axl. - voltei a desviar o olhar para o pequenino e sorri ligeiramente. Eu fazia aquilo pelo Axl, pelo irmão dele e pela mãe.

Abri a boca sem saber o que dizer, ela não se ia sentir bem com eles todos quem em casa, e este drama não era dela, era meu e ela não o tinha que o suportar. Abanei a cabeça encostando-me ao sofá.
-Nada. - disse baixinho - vai com cuidado para casa - disse sentindo Benny vir para o meu colo aninhar-se.

Assenti com a cabeça e sorri-lhe levemente - Beijinhos. - disse baixinho antes de pegar nas minhas coisas todas e sair de casa. Respirei fundo quando cheguei à rua e fechei os olhos por um bocadinho. Parabéns, Kim. Isto é o que dá seres uma irresponsável. Comecei a andar o mais rápido que podia para casa.

Olhei para o meu irmão quando ela saiu de minha casa e estremeci com um arrepio. Não ia conseguir estar mais em minha casa.
-Gostas dela? - perguntou a minha mãe. Eu olhei-a e vi-a sorrir encostando-se a mim - vai ficar tudo bem Axl - revirei os olhos abanando a cabeça. Tudo ficava bem para ela no fim. Apenas assenti, mas não concordava, e não tinha desistido da ideia de procurar quem tinha feito aquilo.

O meu irmão estava a dormir em cima de mim. Fiz-lhe festinhas no cabelo preto e deixei que ele se aninhasse. Ia dormir comigo, se eu conseguisse dormir. Agarrei no telemóvel e marquei o número dela, mas não carreguei no verde. Era melhor não o fazer, merecia espaço, não tinha que satura-la.

Fui fazer uma sandes para a minha mãe comer e agarrei no meu puto. Não ia larga-lo nos próximos tempos. Olhei para ele a dormir e fui deita-lo na minha cama, tapei-o e ainda fui tomar um banho quente que durou pouco mais de cinco minutos. Assim que fui para a cama foquei o meu olhar na parede e não consegui evitar em mandar-lhe uma mensagem.

Fiquei a olhar para o ecrã do telemóvel até de madrugada, e apesar de que sempre que fechava os olhos a imagem de Xavier morto me vinha a cabeça, eu não consegui não adormecer, acordando mais tarde, agarrado a Benny quase a esmaga-lo por me ter mexido tanto. Não tinha conseguido descansar nada.

Assenti com a cabeça apesar de não verem.
-Sim, nós vamos preparar isso tudo - disse baixinho olhando para a minha mãe que estava de volta do funeral enquanto o meu irmão brincava com um dos meus brinquedos antigos. - Está tudo pronto até amanhã. - mordi o lábio desligando e levantei-me para pegar no meu telemóvel e ligar a Kim. Precisava de dizer-lhe que o funeral era amanhã, mas nem chegou a dar o primeiro bip porque avisou logo que estava desligado.

Fiz um prato escorregar pela mesa até à minha mãe e ela abanou a cabeça.
-Devias comer tu - disse ela, mas eu neguei.
-Não tenho fome - afastei-me deles e da sala e fui de novo para o quarto, brincando com o telemóvel na minha mão. Já não sabia o que fazer, precisava de parar de pensar naquilo, mas isso nunca acontecia.

Só acordei no dia seguinte, tinha dormido bem, mas não me tinha safado de certos pesadelos. Sentei-me esfregando os olhos, mas não me apeteceu levantar. Não queria ir vestir o smoking para ir a um funeral, muito menos o do meu irmão. Agarrei no telemóvel e vi se tinha alguma mensagem, mas nada. Engoli em seco desistindo por completo e passei as mãos pela minha cara abanando a cabeça. Já não valia a pena nada.

Assim que entrei em casa, fiquei à porta sem conseguir dar mais um passo que fosse. Agora que já não estava ali nem o meu irmão mais novo, nem a minha mãe, nem Kim... não conseguia não me lembrar de tudo. Dei meia volta e fui de novo para a rua respirando fundo e olhando de novo para o meu telemóvel.