Grants house - LA

Revirei ligeiramente os olhos quando Kyle teimou mas não deixei de sorrir, até disto que já tinha saudades. Levei a sua mão à minha boca e dei-lhe muitos beijinhos encostando depois a bochecha na mesma.
- Deixa de ser teimoso, ficas aqui e pronto.- murmurei.- tem de ser.- endireitei-me e sorri aos dois, olhando depois para o pai dele.- eu fico aqui com ele, pode ir descansado.

Vi-o levantar-se com um suspiro e fechei os olhos quando me beijou a testa, arrepiei-me todo de novo, era tão estranho... e bom ao mesmo tempo. Eu nem queria saber como é que Fred ia reagir, e a minha mãe... se bem que... Suspirei baixinho quando ele saiu e subi o olhar para Abbie - a minha mãe agora tem o outro. - murmurei.

Fiquei a seguir os movimentos do seu pai com o olhar e olhei-o por cima do ombro até desaparecer. Voltei a olhar para Kyle e mordisquei o lábio de forma nervosa. Agora que Kyle já sabia, as únicas preocupações eram Fred e a mãe de Kyle.
- Eu sei.- assenti.- mas é o teu pai e...- mordi a parte de dentro da bochecha, estava a morder-me toda por dentro.- o que é que achas que vai acontecer?

Eu sabia que não devia gostar daquele paspalho, ia acabar com a relação dos meus pais. Sabia que a minhamãe amava o meu pai e que ele também a amava, mas não sabia se ela estava disposta a afastar o outro, para se aproximar novamente dele. Era tudo diferente... Apesar dos esforços, depois de seis anos como ele teve, eu sabia que ele não vinha igual. Sabia disso muito bem porque eu era uma das pessoas que também tinha sofrido o que ele sofreu, só que em cinco dias.
Apesar de sentir a maior alegria do mundo, por causa do meu pai, ainda me sentia um caco, sempre que me lembrava das coisas que tinha feito.
-Não sei - murmurei - onde é que ela está? - perguntei a Abbie.

Fiquei a olhar para Kyle enquanto ele parecia pensativo e soltei um suspiro baixinho. Eu sabia que era complicado, já tinha passado muito tempo, apesar de eu ter a certeza de que o sentimento continuava igual. Eles tinham dois filhos e uma história de amor em comum, era difícil esquecer. Recostei-me na cadeira e passei as mãos pela minha barriga, tentando manter-me direita por causa das costas.
- Não sei..- confesse baixinho.- eu vim com ela, mas depois entrei a correr.- mordi o lábio com força.- se calhar está na sala de espera.- olhei para trás.- eu vou lá ver, está bem?

Olhei Abbie e assenti com a cabeça dando um último toque na sua barriga, afastando-me um bocadinho depois. - Vai, mas não te demores - pedi fechando os olhos, continuava a ter sono por causa daquela porcaria. - não quero ficar aqui sozinho - disse mais baixinho sentindo os meus olhos fecharem e adormeci em tempo record.

Abanei a cabeça com um pequeno sorriso e levantei-me, passando a mão pela sua bochecha com cuidado.
- Eu vou e volto rápido, prometo.- murmurei e ainda fui a tempo de o ver adormecer. Sorri, tapando-o melhor e saí do quarto, indo até à sala de espera, vendo a mãe de Kyle lá sentada numa cadeira. Aproximei-me e mal ela me olhou, levantou-se de repente.
- Eles não me deixaram entrar.- suspirou e eu suspirei também, a culpa tinha sido minha.
- Desculpa.- pedi baixinho, mas ela abanou a cabeça.
- Não tem problema, achas que já posso ir vê-lo? - assenti e agarrei no seu braço com um sorriso.
- Já, ele está a dormir.

-Kyle? - era novamente Wild, mas o outro tinha razão haviam mais três. Levantei-me cerrando o maxilar e forcei-me a respirar como deve de ser indo para o outro piso, encontrando crianças, meninas, todas da mesma idade. Desta vez nem fiquei a olhar, apenas atirei. Faltavam mais seis.
Agarrei-me mais às minhas mantas e abanei-me ligeiramente. A última tinha sido a mais dificil. Era apenas uma criança com quatro anos, mais ou menos, e era tão... mas tão parecida a Abbie. O cabelo, os olhos, até o tom de pele, era como se fosse a Rose. Mesmo estando elas ensinadas para se matarem a elas próprias, para detornar aquela bomba, como é que eu ainda podia estar vivo depois daquilo?

Abri a porta devagarinho, entrando à frente da mãe dele e fiz-lhe sinal para que entrasse, aproximando-me depois da cama, devagarinho. Sentei-me de novo na cadeira e passei as mãos pela barriga com um suspiro, fechando os olhos por uns segundos, mas voltando a abri-los quando o ouvi remexer-se. Voltei a pegar na sua mão devagarinho e entrelacei os meus dedos nos seus.

Gemi virando a cabeça para o outro lado, mas assim que senti a minha mão se agarrada, abri os olhos, tentando deixa-los abertos. Engoli em seco e olhei em volta sorrindo ao ver a minha mãe. Ela também sorria e tinha as lágrimas nos olhos, mas isso já era normal.
-Olá meu principe - não ouvia aquilo vindo dela há alguns anos, somente de Abbie.
-Olá mãe - sorri-lhe um bocadinho - tira-me daqui.

Fiquei a fazer festinhas na sua mão para que fosse despertando e sorri-lhe ligeiramente quando olhou para nós. Passei a mão livre pela barriga e soltei um suspiro quando Rose deu um pontapé com mais força. Eu só esperava que aquelas dores horríveis não voltassem, eu não aguentava. Olhei para Kyle quando o ouvi pedir à mãe que o tirasse dali e mordi o lábio.
- Os médicos não te vão deixar sair amor.- murmurei.

Abanei a cabeça na direcção de Abbie. - Não, eu quero sair daqui, vá lá, arranja maneira - pedi-lhe baixinho - sinto-me preso aqui - elas sabiam que eu não gostava de me sentir preso, muito menos agora, depois do que tinha acontecido, se bem que eu não queria contar a nenhuma delas o que tinha acontecido, ia permanecer tudo para mim, elas não precisavam de saber que tinha sido torturado.

Soltei um pequeno suspiro e encolhi-me ligeiramente quando Rose deu mais um pontapé. Ou estava muito quieta ou então não parava quieta. Fiquei a pensar numa maneira de o tirar dali e mordisquei o meu lábio enquanto o fazia. Eu sabia como ele odiava hospitais.
- Então e o teu..-calei-me antes de continuar e assenti, levantando-me demasiado rápido para as minhas costas aguentarem. Pousei uma mão nas mesmas e gemi baixinho.- eu vou falar com a médica.- murmurei e saí do quarto, indo à procura dela.

Olhei Abbie quando se levantou e assustei-me com o seu gemido. Mordi o meu lábio quando estava prestes a soltar também um e a minha mãe percebeu, agarrando no braço dela e fazendo-a sentar.
-Ficas aqui, ela vai lá - disse olhando para a minha mãe com um meio sorriso. - Anda para o meu lado - apontei para a cama.

Arregalei os olhos quando senti alguém agarrar-me no braço e quando olhei para o lado, vi que era a mãe de Kyle, só podia ser ela também. Sentei-me na cadeira sem protestar, por causa das dores nas minhas costas, e olhei para Kyle.
- Eu não te quero aleijar..- murmurei baixinho mas acabei por me levantar e ir para ao pé dele, tendo muito cuidado.

-Não tenhas medo, não me vais aleijar - dei-lhe um bocadinho mais de espaço para se deitar e quando consegui passei a mão pela sua barriga - ela dá-te cabe das costas, não é? - perguntei vendo a minha mãe sair. Tinha que me curar rápido, ela ia nascer em breve e queria estar bem.

Assenti, deitando-me ao seu lado e senti todo o meu corpo queixar-se quando o fiz, fazendo-me suspirar baixinho. Fechei os olhos assim que senti a sua mão na minha barriga e virei a cara para ele.
- Um bocadinho.- mordisquei o lábio.- está a ficar pesada.

Levantei-lhe um bocadinho a camisola, e com algum esforço virei-me de lado olhando para a sua barriga. Parecendo que não, tinha aumentado. Beijei-a devagarinho e dei-lhe festinhas com as pontas dos dedos.
-Já está quase, já vais poder descansar.

Fechei os olhos com um longo suspiro e deixei-me estar quietinha, a sentir o seu toque na minha barriga. Assenti ao que ele disse e mordi o lábio.
- Foi tão mau quando não a senti mexer-se.- engoli em seco.- eu tive tanto medo.- um nó formou-se na minha garganta.- eu não quero que nada lhe aconteça.- abanei a cabeça, virando a cara para ele.

Sorri levemente para a acalmar e fechei os olhos de novo sentindo-a remexer-se dentro da sua barriga - ela estava triste, estavas a stressa-la amor - murmurei - eu pedi-te para teres calma. Eu ia ficar bem, eu prometi-te. - levantei o olhar para ela - e ela é forte, já está bem.

Estiquei um dedo para tocar no seu sorriso e deslizei pela cama até me conseguir abraçar ao seu braço bom.
- Eu sei.- disse baixinho, já com as lágrimas nos olhos. Eu não queria que a minha bebé ficasse triste, não queria que ela estivesse mal por minha causa.- isso faz de mim um má mãe? - perguntei tão baixinho que temi que não ouvisse.

Dei-lhe um beijinho no dedo, assim que ela o passou pelos meus lábios e abanei a logo a cabeça quando vi que ela ia chorar. - não chores Abbie, não és uma má mãe, estavas preocupada comigo e és teimosa, não és uma má mãe - mau pai ia ser eu, que tinha morto doze crianças. Doze meninas. Mordi o lábio com força e virei a cara para a sua barriga dando-lhe festinhas de novo.

Passei as mãos pelas bochechas quando as lágrimas escaparam e assenti devagarinho. Eu não queria ser uma má mãe, mas era dificil não ficar nervosa quando Kyle tinha ido arriscar a própria vida. Fiquei a seguir os seus movimentos com o olhar e quando desceu o olhar para a minha barriga, toquei-lhe na bochecha.
- O que é que se passa amor? - perguntei baixinho.

Abanei a cabeça quando me perguntou o que tinha, e levei a minha mão à sua, que me dava festinhas nas bochechas - nada - murmurei engolindo em seco - quero ir para casa, as minhas dores não são muitas. - é claro que se fosse para minha casa o meu pai viria comigo. Só precisava de me conseguir levantar. Levantei a cabeça quando vi alguém entrar, era a minha mãe, estava pálida e um bocado atabalhoada.
-A médica vem aí, vamos ter que assinar uns papéis.. - olhei-a fazendo uma careta.
-O que foi? - ela abanou a cabeça e aproximou-se, sorrindo.
-Nada, só pareceu ver uma pessoa - deu-me uma festinha na bochecha, fazendo-me fechar os olhos.

Não é que acreditasse no que ele dizia, mas acabei por assentir. Eu ainda ia descobrir o que se tinha passado naquele dia em que ele me desligara a chamada, Wild tinha dito que ele não estava bem. Entrelacei os meus dedos nos seus quando pegou na minha mão e fechei os olhos por uns segundos, abrindo-os mal ouvi a voz da mãe de Kyle. Virei-me com cuidado para ela e fiz uma careta com a sua cara, estava pálida. Mordisquei o meu lábio e sentei-me com cuidado na cama. Será que ela tinha visto o pai dele? Não, não podia, ele tinha ido para o quarto. Dei por mim a olhá-la com atenção, mas acabei por abanar a cabeça e desviar o olhar.
- O que é que temos de assinar? - perguntei.