Grants house - LA

Quando voltei a acordar não devia ter passado muito tempo desde que tinha adormecido. Abri os olhos deitando a cabeça na almofada e voltei a fechar os olhos, não queria olhar para ela e saber que daqui a poucas horas estava longe.

Abri os olhos quando senti movimento e percebi que ele já tinha acordado. Ele estava estranho, mesmo muito. Deixei que se afastasse, suspirando baixinho e deitei-me a seu lado, dando-lhe um beijinho no nariz.
- Não me vais dizer o que se passa? - perguntei baixinho.

Abri os olhos quando me falou e abanei a cabeça. Não percebia como é que ela não se lembrava, era estranho, mas bom ao mesmo tempo.
-Não - passei a mão pela barriga e sorri-lhe. - Queres ir jantar?

Mordisquei o lábio de forma nervosa e fiquei a olhá-lo, tentando arranjar alguma explicação para o facto de ele não me querer dizer. Será que eu tinha feito alguma coisa? Soltei um suspiro baixinho e foi como se de repente algo me abanasse. Hoje era..
- É já amanhã..? - perguntei baixinho e já com as lágrimas nos olhos. Como é que eu não me tinha lembrado?

Suspirei quando a vi com as lágrimas já nos olhos e sentei-me na cama tocando nas suas bochechas com as duas mãos.
-É que nem penses nisso, não vais chorar - disse beijando-a - vamos jantar.

Solucei baixinho contra os seus lábios e mordi o meu inferior com força, abanando a cabeça.
- É amanhã não é? - voltei a perguntar, passando as costas das mãos pelas bochechas.- é por isso que estás assim, não é?

Suspirei endireitando-me e assenti com a cabeça tocando-lhe nas bochechas e limpando-lhe as lágrimas.
-É - murmurei - por isso não vais chorar, vais estar calma e aproveitar - murmurei puxando-a para mim.

Encostei a minha cara à sua mão e fechei os olhos com força. Como é que eu não me tinha lembrado? Que estúpida, estúpida, estúpida. Encostei a minha cara ao seu peito quando me puxou para ele e abracei a sua cintura com os meus braços.
- Não te vás embora sem te despedires..- solucei.- eu não aguento outra vez.

-Eu sei - abracei-a passando as mãos pela cabeça - eu sei, eu não me vou embora sem me despedir - passei a mão pela sua barriga - acalma-te, por favor - pedi-lhe baixinho - por ela - dei-lhe festinhas na barriga - tem calma.

Escondi a minha cara no seu peito e apertei a sua camisola com força nas minhas mãos. A verdade é que estava a implorar-lhe para que se despedisse, mas não fazia ideia de qual seria a sensação de o ver ir embora sem poder ir com ele. Era horrível, disso tinha a certeza. Assenti quando me pediu para ter calma e passei apenas uma das mãos pela cara, continuando a agarrá-lo com a outra. Não queria que ele fugisse de mim. Não queria. Nem aguentava.

-Abbie - murmurei fechando os olhos e agarrei-lhe novamente na cara tocando-lhe na bochecha e beijando os seus lábios - eu volto a tempo de ver essa pirralha a nascer, não podes ficar assim, por ela. - pedi-lhe dando festinhas.

Abri os olhos devagarinho quando me agarrou na cara e olhei-o, fungando e pestanejando várias vezes para as lágrimas não caírem. Agarrei-me ao seu pescoço e puxei-o muito para mim, beijando-o mais. Era das últimas vezes que o fazia.
- Não te esqueças de nós.- pedi baixinho, encostando a minha testa à sua.

Beijei-a assim que me beijou e puxei-a para mim passando as mãos pelas suas costas e colocando-a ao meu colo de modo confortável.
-Isso é impossivel - murmurei olhando para os seus olhos - e tu não te esqueças de comer, tal como te estás a esquecer agora - sorri-lhe.

Acabei por largar a sua camisola para poder rodear o seu pescoço com os meus dois braços e segurar-me enquanto rodeava também a sua cintura com as minhas pernas. Assenti ao que disse, deixando a minha testa encostada à sua mas fiz uma careta quando falou em comer.
- Não tenho fome.- disse baixinho.

Revirei os olhos devido à sua careta e comecei a abanar a cabeça.
-É que nem penses nisso - levantei-me com ela ao colo, agarrando-a bem para que não escorregasse. - vais comer nem que eu tenha que te enfiar alguma coisa na boca - disse abrindo a porta do quarto e descendo devagar os degraus das escadas.

Mordi o lábio com força. Eu já sabia que ele ia reagir assim e mesmo que eu não tivesse fome, ia ter de arranjar maneira de comer, principalmente quando ele já não estivesse cá. Agora tinha uma bebé dentro de mim, já não podia só pensar em mim. Encostei a cabeça no seu ombro, agarrando-me a ele, e depois escondi a cara no seu pescoço, deixando que me levasse para a cozinha, supunha eu.

Virei o banco para mim quando chegámos à cozinha e sentei-a lá.
-Aconteceu alguma coisa? - perguntou July vindo ter connosco com uma expressão preocupada. Passei a mão pela barriga dela, sentindo a minha bebé e abanei a cabeça.
-Não - murmurei sorrindo-lhe um bocadinho - quando eu for embora, vais obriga-la a comer por mim, eu quero que ela esteja como eu a deixei - disse e July assentiu indo preparar alguma coisa para comermos.

Recostei-me no banco quando me sentou no mesmo e fiquei a olhá-los, suspirando baixinho e revirando depois os olhos.
- Eu estou aqui, sabes? - murmurei e olhei-o.- e eu vou comer, só não esperes que seja tanto.- encolhi os ombros.- tu sabes como fico.

-E quê? - perguntei sorrindo um bocadinho e passei os lábios pelos dela - eu só quero que comas - dei-lhe festinhas - quero-te ver mais gorda quando chegar - sorri olhando para a sua barriga. - Vais ter um final de gravidez óptimo e cheio de comida.

Suspirei contra a sua boca e arregalei ligeiramente os olhos quando disse que queria que eu engordasse.
- Estás maluco? - quase que guinchei.- eu não vou engordar mais.- abanei a cabeça.- é que nem penses, já visto como estou? - apontei para a minha barriga.- já me chega muito bem amor.

Fechei os olhos quando ela se passou e agarrei-me à cadeira cerrando o maxilar e subindo o olhar para ela, ficando a olha-la enquanto falava.
-Queres que a tua filha cresça, ou não? - foi a única coisa que lhe perguntei.

Desci o olhar para ele quando falou e pela sua cara conseguia perceber que não estava a gostar muito da conversa.
- Quero Kyle, sabes que sim.- encolhi os ombros.- mas não preciso de engordar para isso.- fiz uma careta.

-Ai não? Então e porque é que estás assim? Para ela crescer precisa de espaço, quando eu falo de engordar não é para virares balofa - abanei a cabeça indo buscar o sumo que July estava a fazer - tu vais engordar quer queiras quer não por causa dela - apontei enquanto encolhia os ombros. - agora, se deixas de comer - voltei a aproximar-me dela - se por acaso me telefonam a dizer que tu deixaste de comer, eu assim que chegar interno-te num hospital.

Não. Não. Eu não queria discutir, não quando este era o último dia em que estávamos juntos. Eu não queria que o dia acabasse desta maneira. Passei as mãos pela cara, soltando um suspiro frustrado e fiquei a segui-lo com o olhar.
- Ninguém te vai telefonar a dizer nada disso, podes confiar em mim? - tentei não me exaltar.- eu já te disse que vou comer.- resmunguei.

Sabia que ela estava a fazer um esforço enorme para não desatar aos berros comigo, eu também estava. No que tocava a comida eu não confiava nela, não depois do que tinha acontecido, ainda me conseguia culpar por não ter reparado mais cedo, tinha sido burro e cego demais, mas agora não voltava a ser.
-Eu espero que sim.