Grants house - LA

Abri os olhos devagarinho quando o meu sono se evaporou e espreguicei-me devagarinho, sentindo depois um enjoo repentino que me fez levantar da cama num impulso e correr para a casa de banho num instante já só tendo tempo de me debruçar sobre a sanita e vomitar o pouco que ainda tinha no estômago.
- Abbie? - ouvi a voz de July do outro lado.- Abbie? Onde é que estás, pediram-me para...oh meu deus, estás bem? - July correu para mim, ajoelhando-se junto ao meu corpo. Encostei a cabeça à parede com um suspiro e passei as costas da mão pela boca.
- Está tudo bem, vou só um enjoo.- suspirei.- podes ir, eu já desço.

Olhei em volta para ver as armadilhas, não me iam apanhar, primeiro tinham todos que morrer. Só aí é que eu descansava, é que nem morto eu desistia. Cerrei o maxilar quando vi uma bomba e como não estava mais ninguém naquela zona apenas me afastei e mandei para lá uma pedra que arrebentou com aquilo. Fiz uma careta e tossiquei por causa do fumo, era melhor assim do que alguém a fazer ligar-se e explodir com ela.

Depois de lavar a cara e de dar um jeito à casa de banho, desci, indo ter com eles à cozinha. Não me sentia muito bem, estava com a sensação de querer vomitar a todos os minutos. Recostei-me na cadeira, fechando os olhos por uns segundos e voltei a abri-los quando July pousou o prato com as minhas panquecas à minha frente. Fiz uma careta com o cheiro e acariciei a barriga, abanando a cabeça.
- Eu não vou conseguir comer isso.- suspirei.- o cheiro mete-me ainda mais mal disposta.- engoli em seco, tentando não vomitar ali.
- Oh, eu vou fazer-te outra coisa.- disse July, retirando-me logo o prato dali.
- Bom dia.- olhei para trás quando ouvi a voz da mãe de Kyle e vi-a olhar-me com um expressão preocupada.- o que se passa querida? Estás tão pálida.- aproximou-se.
- Não me estou a sentir muito bem.- murmurei baixinho.
- O que se passa? Queres que ligue ao teu médico, queres ir ao hospital? - abanei a cabeça, passando uma mão pela barriga.
- Não, acho que é só um enjoo.- encolhi os ombros. E muito provavelmente era uma consequência depois de tanto stress.
- Tens de te manter calma agora Abbie, está a chegar ao fim.

Olhei em volta, estava sozinho, mais uma vez, Wild não se estava a sentir bem por causa da comida de ontem, quase que apostava, e agora estava em campo por minha conta. Por minha conta entre aspas porque havia sempre uma equipa, mas eu não gostava, preferia trabalhar sozinho e à minha maneira, ainda por cima andavam atrás de mim. Dei uma volta enquanto olhava para aquele terreno e abanei a cabeça. Eles estavam por ali.

Depois de beber o chá que July me tinha preparado e de comer uma torrada fui para a sala, deitando-me no sofá, na esperança de ficar melhorzinha. Só esperava que isto tudo não fosse por causa do stress, como Kyle tinha dito. Por mais que eu lhe fizesse festinhas ela não mexia, só esperava que não fosse nada de mal, não podia ser. Soltei um longo suspiro, abraçando-me a uma almofada e fiz uma careta quando se ouviu o som da campainha. Não estava à espera de visitas. Ainda fiquei uns minutos à espera que July fosse abrir, mas devia estar tão atarefada com as suas coisas que nem devia ter ouvido. Acabei por ter de me levantar, puxando a camisola de Kyle para baixo e com uma mão nas costas, fui até à porta. Estremeci quando voltaram a tocar e o som da campainha ecoou nos meus ouvidos e mal abri a porta, o meu coração disparou, fazendo o meu corpo estacar.
- O que é que estás aqui a fazer? - murmurei. Era Jace.

Cerrei o maxilar agarrando melhor na minha arma e continuei a andar devagarinho, sempre atento a sons e a sombras. Assim que vi um arbusco a mexer apontei para ele e apesar de ter esperança que fosse o vento, não hesitei em atirar vendo depois um capacete rolar pelo chão. Arregalei os olhos indo até lá ver se conhecia, mas não. Todos tinham uma tatuagem com um simbolo ao lado do olho, tal como as balas. Respirei fundo e olhei em volta, deviam estar espalhados por aí, à espera de me matar, ou resgatar, eu nem sabia do que é que isto se tratava, mas tinha à ver com o meu pai, e era por isso que eu estava aqui, para os matar a todos.
-Kyle? - ouvi no meu auricular. Agarrei no intercomunicador que tinha ao é do peito.
-Sim Wild? Vem já para a base, corre. - não consegui ouvir mais nada. Olhei em volta mais uma última vez para depois começar a correr até à base. Assim que a vi ao longe tive que parar de olhos arregalados, não havia base.
-Oh não - murmurei sentindo o meu peito descer e subir demasiadas vezes em pequenos segundos - Oh não - comecei a correr até lá - Wild? - gritei enquanto entrava e vi-o ao longe são e salvo. - Estás bem? - ele assentiu.
-Eu saí por dois minutos, para ir escrever uma carta à July - disse - o helicopetro vem cá amanhã e eu ia dar. - contou e eu assenti abanando a mão para que ele desenrola-se. - Devias fazer o mesmo para a Abbie.
-Wild, o que foi isto? - perguntei abanando-o.
-Duas bombas. Morreram todos. - arregalei os olhos abrindo ligeiramente a boca.
-Oh não - voltei a murmurar e levei um estalo.
-Reage, vais ser um general agora. - disse ele todo contente.

- O que é que estás aqui a fazer? - voltei a perguntar, colocando-me mais direita enquanto o olhava. Estava com o cabelo enorme e os olhos dele estavam sem brilho, pelo menos já não tinham tanto quanto costumavam ter.
- Eu cheguei há alguns dias...- começou.
- Sim, eu sei.- murmurei, interrompendo-o.- e estás aqui porquê? - sim, eu estava a ser má com ele, mas eu ainda não tinha esquecido que Kyle tinha tido um ataque por causa dele.
- Eu vim ver-te Abbie, eu tenho saudades tuas..- suspirou. Acabei mesmo por revirar os olhos e apoiei uma mão na cintura.
- Pronto, agora já viste, já podes ir.- disse secamente. Se Kyle sonhava que ele aqui estava, passava-se. Ainda para mais depois daquela nossa conversa.
- Porque é que estás a ser assim comigo? - perguntei baixinho, passando uma mão pelo cabelo. A sério que ele estava a perguntar?
- Tu fizeste com que o Kyle fosse parar ao hospital, não achas que é motivo suficiente? - tentei manter-me calma, já estava mal disposta o suficiente.
- Ele também me provocou Abbi.- ripostou, fazendo-me levantar as sobrancelhas.
- Ai sim? E provocou-te como, visto que eras tu que te andavas a fazer à namorada dele? - fiz um gesto qualquer com a mão.- não tiveste razão nenhuma Jace, admite-o. - a minha voz saiu mais alta do que seria de esperar.
- Está tudo bem Abbie? Eu ouvi a campainha..- ouvi a voz de July e quando me virei, ela estava a olhar para ele de olhos arregalados.- eu acho que é melhor ele ir-se embora..

-Como é que vou falar com ela agora? - perguntei. Estava sentado em cima de uma rocha a olhar para os destroços, não tinha sobrevivido ninguém. Wild estava completamente excitado com a ideia de eu ser um novo general, ele tinha quase a certeza que isso acontecer, mas a mim pouco me importava. Depois da vingança não queria voltar mais. Peguei num papel e comecei a escrevê-lo a Abbie.

Está tudo bem, peço-te que não te preocupes primeiro que tudo, daqui a uns dias já vou poder voltar a ligar. Houve problemas na base, provavelmente já ouviste as notícias... Eu prometi que voltava e vou voltar, acho que a sorte está do meu lado. Quero saber de ti assim que possivel, por isso responde-me a esta carta.

Amo-te

-Anda, foi-nos ordenado na base de lá para seguirmos o plano anterior - falou Wild. Arregalei os olhos com o que ele disse.
-O quê? Mas somos só oito! - exclamei incrédulo. - Não conseguimos combater aquele batalhão. -Wild encolheu os ombros.
-Mandaram-nos, sempre podes usar o teu poder como general.
-Cala-te Wild isso é impossivel.

- Não te preocupes July, eu trato disto.- murmurei e ela ainda ficou a olhar-me com a sua cara assustada, mas quando lhe fiz sinal ela assentiu e deixou-nos de novo sozinhos. Voltei a virar-me para ele e vi-o dar um passo na minha direcção, mas eu afastei-me.- nem penses Jace, não vais entrar aqui.- abanei a cabeça.- estás proibido de estar nesta casa.- murmurei e ouvi um suspiro da sua parte.
- Tu queres que eu admita não é? - passou as mãos pela cara e olhou-me.- sim, eu admito, não tive razão e não devia tê-lo provocado daquela maneira.- primeiro fiquei ligeiramente surpreendida, mas rapidamente assenti, esperando que continuasse.- mas tu também sabes como te amo, e como detesto que sejas tão feliz ao lado dele. Detesto que ele te tenha.- ok, se calhar não queria assim tanto que continuasse.
- Jace...
- Sim, eu já sei, ele é o homem da tua vida, aquele que fez tudo por ti.- suspirou.- mas eu também posso fazer, eu consigo mostrar-te que sou melhor que ele se me deixares, eu consigo fazer-te mais feliz do que o que ele te faz.- olhou-me e de repente, senti-me ficar extremamente irritada.
- Tu estás a olhar bem para mim? - quase que gritei.- estás a ver a minha barriga? - apontei para a mesma e juro que conseguia sentir as minhas bochechas a ferverem de raiva.- eu estou grávida, do Kyle, e não podia estar mais feliz.- respirei fundo.- por isso acaba com essa conversa da treta, porque sabes muito bem que não conseguias fazer metade do que ele faz.- apontei-lhe o dedo.
- Conseguia sim.- ele insistiu.- deixa-me cuidar de vocês.- o meu olhar desceu para as suas mãos e quando vi uma delas aproximar-se da minha barriga, afastei-me a tempo de impedir que isso acontecesse. Não. Só Kyle é que podia, só Kyle é que fazia aquilo. Agarrei-me à minha bebé e fulminei-o com o olhar.
- Não me toques, afasta-te.- acabei mesmo por elevar o tom de voz.- eu amo o Kyle, vou ter um bebé com ele e não vais ser tu a cuidar de nós porque ele já o faz.- apertei a camisola nas minhas mãos e respirei fundo quando comecei a ver tudo à roda.
- Cuida tanto que se foi embora e vos deixou às duas sozinhas.- eu não me estava a sentir bem, não me estava a sentir mesmo nada bem. Arranjei forças para lhe fechar a porta na cara e apenas me encostei à mesma, deslizando por ela e encostando a cabeça de olhos fechados, tentando não perder os sentidos.

Estavamos todos espalhados, eu tinha que estar atento a três sítios ao mesmo tempo por não sermos suficientes. De quinze passamos a oito e podia não parecer muito em números, mas faziam falta.
-Vai - foi Wild que falou no meu ouvido fazendo-me olhar para a casa que tinha à minha frente. Respirei fundo e entrei em hesitar olhando para todos os lados com a minha arma a percorrer o mesmo trajecto que os meus olhos.
-Limpo na entrada. - falei baixinho para o intercomunicador e comecei a subir umas escadas, estava atento a tudo, a minha adrenalina estava ao rubro, nada me podia impedir agora. Abri a boca para dizer que estava tudo limpo no piso superior, mas isso não chegou a acontecer. Havia três crianças a olharem-me com os olhos molhados e assustados. Cerrei o maxilar quando vi uma das meninas com uma bomba armadilhada ao peito.
-São só crianças - murmurei para o intercomunicador.
-Mata-as - falou outro que eu não conhecia e não pretendia conhecer.
-Não.
- O que é que elas estão a fazer? - foi Wild que falou.
-Eles vão explodir isto tudo. -falei no mesmo tom.
-Kyle...
-Não. - abanei a cabeça respirando fundo e só me apeteceu chorar quando vi a pequenina com o queixo a tremer - shh, não tenhas medo - baixei-me para tocar-lhe no cabelo e ela olhou-me com uns olhos azuis brutais.
-Há mais três como ela - disse outra fazendo-me levantar de novo a arma

- Abbie.- estremeci quando senti chapadinhas na minha bochecha e fui abrindo os olhos devagarinho, piscando-os devagarinho.
- Hm...- levantei a cabeça de repente e olhei em volta. Ainda estava ao pé da porta, mas desta vez estava deitada no chão. Acho que tinha mesmo desmaiado.- desmaiei não foi? - perguntei baixinho e vi a mãe de Kyle assentir.
- Estava só à espera que acordasses, vamos ao hospital.- abanei muito a cabeça e sentei-me de repente, sentindo tudo andar à roda.- cuidado.- suspirou agarrando-me.
- Eu não preciso de ir ao hospital, foi só uma quebra de tensão.- disse ainda meio grogue.
- Passaste o dia maldisposta e agora desmaiaste, isso não é uma quebra de tensão Abbie, deixa-me levar-te ao hospital.
- Não é preciso, eu já me sinto melhor.- suspirei e olhei para a porta quando vi July entrar na sala.
- Toma, é água com açúcar, bebe devagarinho.- assenti e agarrei no copo, bebendo goles pequeninos.
- Podemos não ir agora, mas se continuares assim eu vou levar-te ao médico e nem sequer vais ter direito a resmungar.- assenti.

-Kyle.. - ouvi a voz calma de Wild.
-Não me digas o que eu já sei - cerrei o maxilar e não o ouvi mais. Tinha que as matar ou elas matavam-se a si próprias, assim como as crianças que não tinham mas que podiam fazer a bomba detonar. Tinha que matar todas. Eram elas ou eu.
-Tens uma filha Kyle, pensa nela. - Wild voltou a falar. Fechei os olhos com força e quando os voltei a abrir matei-as com um tiro na cabeça.
-Há mais nove, três têm bombas, despacha-te - senti-me cair no chão com o meu peito a abarrotar de emoções.
-Kyle? - era novamente Wild, mas o outro tinha razão haviam mais três. Levantei-me cerrando o maxilar e forcei-me a respirar como deve de ser indo para o outro piso, encontrando crianças, meninas, todas da mesma idade. Desta vez nem fiquei a olhar, apenas atirei. Faltavam mais seis.

Recostei-me no sofá, colocando algumas almofadas atrás das costas e estiquei-me para o comando, ligando a televisão. A mãe de Kyle tinha ido ajudar July a preparar o jantar, mas pedira-me para a chamar caso precisasse de alguma coisa. Parei no canal das notícias, visto que não estava a dar mais nada e fui acariciando a minha barriga. Só queria que ela se mexesse. Tentei concentrar-me na televisão e quando isso aconteceu, o meu coração disparou. Estava a dar uma notícia que falava na missão de Kyle.
- Não...- murmurei mal apareceu em letras grandes que a base tinha sido bombardeada, destruindo tudo o que nela se encontrava.- não...- as lágrimas surgiram nos meus olhos de imediato. Tentei acalmar todos os meus pensamentos, para ouvir a notícia até ao fim e respirei fundo de alívio quando se ouviu que oito deles tinham sobrevivido. Digam o nome dele, digam o nome dele, digam o nome dele. Fiquei à espera que o dissessem, mas a notícia acabou de repente, passando logo para outra. Apertei o comando nas minhas mãos, abanando a cabeça e senti o meu coração ficar apertadinho. Não, ele tinha de estar vivo, ele tinha prometido. Encolhi-me, abanando muito a cabeça e fechei os olhos de repente quando uma dor vinda do nada se fez sentir na minha barriga. Não sabia explicar, mas era demasiado doloroso. Era uma espécie de pontada.- ah! - soltei um grito de dor e quando de repente ela parou, fiquei à espera de sentir a bebé mexer, mas isso não aconteceu. Abri os olhos de repente, enquanto as lágrimas me escorriam pelos mesmos e foi como se algo me atingisse de repente, roubando-me todo o ar dos meus pulmões.- não, não, não! - gritei.- eles não! - gritei com todo o ar dos meus pulmões e ouvi barulho vindo das escadas.
- Abbie? O que se passa? - a mãe de Kyle veio a correr ter comigo. Continuei a abanar a cabeça e agarrei-me à minha barriga, ofegando por entre um choro aflitivo.
- Eu não a sinto, ela não se mexe.- solucei com o coração a apertar-se cada vez mais.- eu não a sinto!- gritei.

Fiz o mesmo com as outras seis crianças e quando fui ao tecto apenas olhei em volta sentindo algo estranho na minha barriga, quando olhei para ela vi sangue a escorrer pelo meu fato e só aí é que comecei a sentir as dores, porém não era nada muito forte, ainda estava cheio de adrenalina. Mais uma vez, nada se tinha ouvido, era só a bala a entrar e depois a dor. Gemi cerrando o maxilar e olhei em volta matando um deles quando vi a cabeça.
-Kyle? Estás ferido? - foi Wild que falou.
-Sim - disse caindo no chão - A casa está limpa - agarrei-me à barriga com um gemido e num espaço de dois minutos vi-o a vir ter comigo.
-Não dói muito - disse baixinho começando a ver tudo à roda.
-Estás cheio de adrenalina Kyle, é claro que não dói. Apenas respira. - assenti com a cabeça levantando-me com a sua ajuda, encostando a cabeça ao seu ombro - já construiram uma enfermaria improvisada ao lado da base, vamos meter-te no carro.

- Tem calma Abbie, respira, já estamos quase a chegar.- repetiu a mãe de Kyle mais uma vez. Mal lhe disse que a bebé não se mexia ela ajudou-me a ir para o carro e estávamos agora a caminho do hospital. Ela não podia ter morrido, não agora, já estava quase, porquê agora? Ela tinha de se mexer, eu precisava de senti-la. Apertei o tecido da minha camisola com força e solucei, inspirando de repente, à procura de ar. Senti a mão da mãe de Kyle na minha testa e abanei a cabeça. Eu tinha prometido a Kyle que cuidava dela, ela tinha de se mexer, eu só precisava que me dissessem que ela estava bem. Tal como precisava que me dissessem que ele estava bem, e vivo. Abri os olhos mal senti o carro parar e fui a primeira a sair do mesmo, entrando pelo hospital de rompante, caminhando a passo rápido para o balcão, ignorando as dores que sentia.
- Eu preciso de um médico.- solucei, vendo a enfermeira arregalar os olhos com o meu estado. Passei a mão pelas bochechas e olhei-a, desesperada.- eu preciso de ver a minha bebé, eu preciso de ver a minha bebé! - gritei, vendo-a estremecer.
- Tenha calma, respire fundo.- pediu-me calmamente. Apenas abanei a cabeça e já só senti a mãe de Kyle ao meu lado.
- Você não está a perceber, a minha bebé não se mexe.- o meu queixo tremeu.- eu preciso de ver a minha bebé, agora, por favor.- olhei-a, para lá das lágrimas.

Estremeci quando senti uma mão na minha testa e abri os olhos vendo Wild ao meu lado. - Estamos quase puto - disse ele. Forcei-me a sorrir, já estava a doer como doía das outras vezes, mas eu aguentava, tinha-me mexido a tempo e não tinha sido numa zona dolorosa ou perigosa.
-Armaram-nos uma cilada - disse sentindo um arrepio e quando perceberam que estava a tremer taparam-me com uma manta. - Eu tive que mata-las para nada. -cerrei o maxilar para não dar parte fraca. Wild apenas suspirou e assim que o carro parou agarrou em mim ao colo e levou-me para a enfermaria.

Mandaram-me despir assim que cheguei à sala e fi-lo o mais rápido que consegui, apesar do meu estado de nervos. Deitei-me com cuidado na maca que havia ao pé da máquina e fiquei a olhar para a minha barriga. Levei as mãos à mesma e o meu queixo tremeu.
- Tens de estar bem princesa, por favor.- solucei.- eu e o papá precisamos que estejas bem.- fechei os olhos com força e abri-os apenas quando ouvi uma porta abrir-se. Era o médico.
- Vamos lá ver o que se passa.- olhou para as folhas que trazia na mão e aproximou-se, olhando-me.- diz aqui que esteve maldisposta todo o dia e que chegou mesmo a desmaiar.- assentiu.- vamos ver o que se passa então.- disse de novo e começou a espalhar-me o gel pela barriga, puxando depois um banquinho para se sentar enquanto começava a kigar a máquina.- é o seu primeiro filho? - assenti e mordi o lábio com força quando o meu queixo voltou a tremer.- tenha calma, vai ver que não se passa nada.- tentou descansar e pousou o aparelho na minha barriga, desviando o olhar para o ecrã. Passei as mãos pelas bochechas e fiquei muito atenta, tentando ouvir o seu coração. Desviei o olhar para o ecrã e senti o meu coração disparar quando a vi ali, estava tão crescida. Remexi-me ligeiramente, impaciente, e olhei para o médico.
- Então? - perguntei baixinho.- diga-me que ela está bem.- pedi com o coração quase a saltar-me do peito.

Quando voltei a abrir os olhos senti os mesmos estalarem por causa do sol, fazendo-me gemer e virar a cara para o lado fechando-os com força.
-Wild - sabia que ele estava ali. - Wild, enviaste a minha carta? - perguntei respirando fundo.
-Sim, está tudo bem, elas ainda devem receber tudo hoje. - voltei a abrir os olhos com mais cuidado e apenas assenti.
-Trouxeram computadores - ouvi uma voz feminina que devia ser a da enfermeira - podes usa-los quando estiveres melhor.

- Está tudo bem com a sua bebé.- disse o médico ao fim de algum tempo.- mas tem de se acamar, anda demasiado nervosa e isso não faz nada bem.- abanou a cabeça e eu assenti com um suspiro. Hoje tinha sido um dia de loucos.
- Porque é que ela não se mexe? - perguntei baixinho.
- São tudo consequências do seu nervosismo, é por isso que preciso que se mantenha calma, não queremos que nada de mal aconteça, nem a si nem à sua bebé.- assenti e limpei a barriga quando me estendeu os papelinhos. Puxei a camisola para baixo e levantei-me com cuidado, olhando o médico.
- Muito obrigada.- sussurrei. Ele assentiu com um pequeno sorriso e levantou-se também.
- Mantenha-se calma e vai ver que tudo vai correr bem, tem uma bebé muito saudável.- respirei fundo, ligeiramente mais calma e assenti, passando as mãos pela barriga. Despedi-me e saí do gabinete, indo ter com a mãe de Kyle que se levantou mal eu me aproximei.
- E então?
- Está tudo bem, o médico disse que era tudo por causa do stress.- engoli em seco e não a olhei. Já sabia o que ia dizer a seguir.
- Tens de te manter calma Abbie, o Kyle não ia gostar nada de te ver assim.- assenti e passei as mãos pelas bochechas. Precisava tanto que ele estivesse ali naquele momento. Funguei e fui com ela para o carro, indo em silêncio o caminho todo de volta para casa. Subi para o quarto mal chegámos e a única coisa que fiz foi enfiar-me na cama e só acordei no dia seguinte.

Olhei para o computador que estava à minha frente e fechei os olhos com um suspiro. Não conseguia fazer isto.
-O que foi? - perguntei - já estive a falar com a July, ela ficou tão contente por me ver, isto é muito melhor que os telemóveis - disse ele entusiasmado. - Coitadinha... ela pensava que eu estava morto, ficou tão feliz por saber que estavamos os dois, eu disse-lhe que tu também estavas e pedi para a Abbie também ir...
-Cala-te - pedi baixinho deixando a cabeça cair na almofada. - Eu não me consigo olhar a mim mesmo, como é que vou conseguir olhar para ela? - Wild fez uma expressão mais séria e olhou-me os olhos.
-Tu vais vê-la e é agora.

Abri os olhos devagarinho por causa da luz e espreguicei-me com cuidado, passando logo as mãos pela barriga. Ela estava bem, ela estava bem. Agarrei-me à almofada de Kyle e quando senti o seu cheirinho, lembrei-me da notícia de ontem, o que fez com que as lágrimas voltassem. Ele não tinha ligado e...não Abbie, nem penses. Passei as mãos pela cara assim que bateram à porta e sentei-me na cama, com as almofadas atrás das costas.
- Sim? - era July.
- Trago aqui uma coisa para ti.- disse com um sorriso.- mas antes, como te sentes? - olhei para o computador nas suas mãos e arregalei os olhos.
- É o Kyle? - o meu queixo tremeu.- e estou bem, eu estou bem.- estiquei os braços para que me desse, colocando-o depois no meu colo.

-Não Wild, ela deve ter visto a minha carta, deve estar bem - suspirei.
-A carta ainda nem deve ter lá chegado Kyle, vais vê-la agora - insistiu ele ligando o skype, colocando-me o computador no colo. Não conseguia... depois do que tinha feito, não conseguia.

Fiquei a olhar para o computador à espera que ele aparecesse e quase que me deu um ataque quando vi o seu nome. Passei as mãos pela cara, respirando fundo e assim que o pedido apareceu, carreguei logo em aceitar, encostando-me à cama enquanto esperava que ele aparecesse. Eu sabia, ele ia cumprir o que tinha prometido.

-Vá, anima-te homem - disse saindo da sala improvisada da enfermaria. Olhei para o ecrã e quando a consegui ver apenas consegui sorrir ligeiramente baixando depois o olhar para as minhas mãos.
-Estão bem? - perguntei.

Remexi-me na cama, impaciente, quando aquilo nunca mais dava mas assim que Kyle apareceu no ecrã, o meu coração disparou numa corrida constante. O meu queixo tremeu e as lágrimas queriam sair, mas impedi-as de o fazerem, não queria que ele me visse a chorar. Passei as mãos pelos olhos, esfregando-os e depois desviei o meu olhar para ele, juntando as sobrancelhas numa expressão preocupada. Ele não estava bem.
- O que se passa amor? - perguntei, ignorando a sua pergunta.- o que é que aconteceu?