Grants house - LA

Assenti com a cabeça, caminhando devagarinho ao seu lado até ao carro e engoli em seco com um suspiro, acho que começava a não sentir o meu corpo com tantas dores. Entrei no carro com cuidado e sentei-me, encostando a cabeça ao banco. Ainda olhei para a manta, ponderando se me cobria ou não, mas as dores iam voltar e o que menos ia querer era estar tapada.
- Vens aqui ao pé de mim? - perguntei baixinho, olhando para Kyle, encolhendo-me quando voltei a sentir aquela pressão.

Sentei-me ao lado dela enquanto a minha mãe não vinha.
-Não, eu vou conduzir e nem experimentes reclamar - passei uma mão pela sua bochecha. Era a primeira vez desde que tinha chegado que estava a reagir a algo, a reagir não, a actuar.
-Não vais nada - reclamou a minha mãe abanando a cabeça e eu suspirei olhando-a. - Está bem - acabou por dizer, colocando as malas ao lado de Abbie.

Fiquei a olhá-lo e cheguei a abrir a boca para falar, mas acabei por fechá-la logo, assentindo devagarinho. Podia ser que assim chegássemos mais rápido ao hospital. Eu só queria que as dores passassem, mais nada. Mas eu ia aguentar, era a minha menina e se fosse por ela, e por Kyle, eu passava por tudo o que fosse preciso. Gemi baixinho, contorcendo-me e fechei os olhos, inspirando e expirando várias vezes.
- Vamos embora.- pedi baixinho.- por favor.- apertei a mão de Kyle.

Sorri levemente por ela não ter resmungado e assim que a minha mãe veio ter comigo para ocupar o meu lugar eu fui até ao lugar do condutor. - Vou arrancar - avisei para que colocassem o cinto e assim que a minha mãe colocou o dela e agarrou em Abbie para ela não andar aos solavancos eu arranquei para o hospital, andando a uma velocidade exagerada, mas os gemidos dela assustavam-me, só queria chegar lá rápido.

Eu sabia que o pior ainda estava para vir, que se isto já me doía, ia ser muito pior daqui a um bocado. Eu só precisava de ter calma, eu ia conseguir, era óbvio que sim. Deixei que a mãe de Kyle me agarrasse e acabei por encostar a cabeça no seu peito. Eu gostava tanto dela. Na verdade, era como uma mãe para mim, sentia-me bem com ela e sabia que era a melhor mãe que alguém podia ter, dava para ver como ela amava os filhos e como eles a amavam. Passei uma mão pela cara, sentindo as minhas bochechas a arderem com o calor e abracei-a, com um suspiro baixinho.
- Vai correr bem, não vai?- murmurei baixinho, eu mentalizava-me de que tudo ia correr bem, e de que ia aguentar, mas não conseguia não ter medo.

Levantei o olhar da estrada para o espelho, conseguindo vê-las as duas e mordi a parte de dentro do lábio quando perguntou se ia correr tudo bem.
-Vai - murmurei sendo eu a responder - claro que vai - parei à frente do hospital, nas urgências e a minha mãe sorriu assentindo com a cabeça para Abbie.
-Vai correr tudo bem, nós estamos contigo. - garantiu-lhe.

Levantei o olhar para Kyle quando ele falou em vez da sua mãe e assenti, passando uma mão pela barriga, massajando-a na esperança de que a pressão aliviasse. Desviei o olhar para a janela mal senti o carro parar e afastei-me da mãe de Kyle, abrindo a porta para sair. Eu conseguia sair sozinha, precisava de me mexer. Saí com cuidado e mal os meus pés pousaram no chão, senti uma ligeira impressão e de repente algo molhado escorreu-me pelas pernas. Sustive a respiração, olhando para baixo e tive a certeza de que não era impressão minha.
- A nossa filha vai mesmo nascer.- murmurei e olhei para eles.- as águas...elas, as águas rebentaram.- olhei para baixo.

Fui de volta, tentando ajudar Abbie a levantar-se e arregalei os olhos quando vi o chão molhado e ela a dar-me certezas. Ela ia nascer, ela ia nascer.
-Kyle - a minha mão abanou-me ligeiramente - estás pálido filho, não desmaies primeiro que ela - sacudiu-me e eu abanei a cabeça agarrando num braço de Abbie para a ajudar a andar.
-Temos que ir, ela vai nascer - disse ainda com os olhos muito abertos.

Olhei para Kyle mal senti a sua presença e respirei fundo várias vezes, não podia entrar em pânico agora, era quase impossível, mas não podia mesmo. Agarrei-me a Kyle, apertando a sua camisola com força quando as dores voltaram e encolhi-me ligeiramente, mordendo a minha boca toda para não gemer, não queria que Kyle se assustasse mais do que o que já estava. Até eu estava assustada, mas acho que era normal. Caminhei a seu lado até dentro do hospital e não sei se estava assim com tão mau aspecto, mas uma enfermeira veio logo ter connosco.

Estava a respirar fundo mais vezes que ela para me acalmar, estava a entrar em pânico e desta vez não era por causa da guerra ou de alguma coisa relacionada com a mesma, era por ela, pelas dores dela, pelos gritos, pelos pensamentos negativos que me apareciam pela cabeça. E se corresse mal? Não podia. Engoli em seco quando uma enfermeira veio ter connosco e a fez sentar numa cadeira de rodas, perguntando-me se era o pai. Eu assenti agarrando nas coisas que a minha mãe tinha na mão e comecei a ir atrás da mulher.

Sentei-me na cadeira com cuidado mal a enfermeira me fez sinal para que o fizesse e olhei para cima, para Kyle, esticando uma mão para ele. Eu conseguia sentir o seu nervosismo, e isso assustava-me um bocadinho, eu sabia que ele também tinha medo.
- Vamos deitá-la na cama.- disse-me a enfermeira ao chegarmos ao quarto.- eu vou chamar a médica e ela já deve vir ter consigo, está bem? Mantenha a calma.- sorriu-me e olhou para Kyle.- e o pai também, vai correr tudo bem.

Assenti com a cabeça quando a médica disse que ia correr tudo bem e coloquei as malas da bebé e de Abbie num canto do quarto, indo ajuda-la a ir para a cama e a vestir a bata. Não conseguia falar, sabia que ela precisava que falassemos, mas não sabia o que dizer. Só... - Aguenta está bem? - perguntei. Quando a minha mãe esteve grávida do meu irmão ela apanhou anemia, esteve mal no parto, eu tinha memórias bastantes vividas, não queria que acontecesse alguma coisa parecida.

Levantei-me da cadeira, agarrada à barriga e não refilei quando Kyle me veio ajudar, eu começava a sentir o corpo todo dormente com as dores. Mas era por uma boa causa, era a nossa princesa. Levantei os braços para o ajudar a despir-me e assim que já tinha a bata vestida, puxei as mantas para trás, mas não cheguei a deitar-me, ficando parada ao ouvir Kyle. Virei-me de novo para ele e aproveitei que as dores tinham acalmado para conseguir falar.
- Eu aguento amor.- sorri muito ao de leve.- é a nossa filha, eu aguento por ti e por ela.- estiquei-me para lhe dar um beijinho.- não estejas preocupado, vai tudo correr bem, nós somos fortes.

Assenti com a cabeça tocando-lhe na bochecha quando disse que elas eram fortes e aproximei-me até a beijar ao de leve nos lábios - descansa um bocadinho, vais precisar das tuas forças - sorri levemente colocando-lhe as almofadas atrás de si e sentei-me num banco que estava ao seu lado, ficando a agarrar-lhe a mão à espera que a médica viesse.

Passei uma mão pelo seu braço, acariciando-o com as pontinhas dos dedos e deitei-me na cama, esperando que Kyle colocasse as almofadas para me aconchegar. Suspirei cansada, passando uma mão pela barriga e olhei para a porta, mas nem sinal do médico. Eu sabia que as dores ainda iam piorar, não precisava que ninguém me dissesse isso.
- Eu não sei se vou conseguir dormir.- disse já de olhos fechados.- mas se a médica aparecer acorda-me.- pedi baixinho, agarrando bem a sua mão para me garantir que ele não saía dali. Por agora as dores estavam paradas, mas eu até tinha medo disso.

Ela já não gritava ou gemia com dores à algum tempo, pelo que eu suspirei baixinho, ficando a dar-lhe festinhas no braço, assentindo quando ela falou - não te preocupes, tenta descansar, se adormeceres eu acordo-te - prometi-lhe encostando a cabeça à cama, ficando a olhar para a janela. A minha bebé ia nascer.

Assenti quando o ouvi e ajeitei-me na cama, ficando a agarrar na sua mão. Continuei de olhos fechados, remexendo-me algumas vezes mas acho que o cansaço levou a melhor de si, fazendo-me ficar apagada durante algum tempo, não sei se foi muito, mas mal uma dor aguda assolou o meu corpo, abri os olhos de repente, não conseguindo calar um grito que me brotou pelos lábios.
- Ah! - gritei, agarrando-me à barriga e já só senti várias dores seguidas, eram cada vez mais e mais fortes.- oh meu deus.- ofeguei e fechei os olhos com força.

Estava quase a dormir de novo, quando a ouvi gritar, fazendo-me saltar da cadeira, que caiu quando me levantei. Fiquei de olhos arregalados com o coração a mil à hora e sem saber como reagir, mas depois lá me agarrei à sua mão.
-Tem calma, a médica deve estar a vir - passei a mão pela sua testa.

Eu sentia a barriga tão dura e todo o meu corpo tão dorido, aliás, acho que começava a deixar de o sentir. Agarrei-me à mão de Kyle, apertando-a com força e cerrei o maxilar, tentando calar os meus gritos. Enfiei a cabeça na almofada e tentei respirar como ensinava num dos livros que tinha lido sobre isto. Não tinha chegado ao final, mas lembrava-me do que dizia lá: inspire duas vezes e expire duas. E foi isso que fiz, fechei os olhos, assentindo e fui inspirando e expirando devagarinho.
- Dói.- queixei-me baixinho e quando ouvi barulho da porta, virei a cara bruscamente para lá, vendo a médica a entrar.
- Ouvi dizer que vai ser mamã.- dirigiu-me um sorriso agradável e eu juro que tentei retribuir, mas a única coisa que consegui foi gemer.- ui, parece-me que alguém está com vontade de nascer.- aproximou-se de mim e levantou a minha bata, olhando-me depois.- ainda vai ter de esperar mais um bocadinho, as dores já são mais regulares? - assenti.- ainda precisa de dilatar mais dois dedos.- oh meu deus, eu tinha de aguentar.

Era inútil, cada vez tinha mais certeza de que Jace tinha razão, mas nem queria pensar nisso agora, ele não importava agora. Passei as pontas dos dedos pela bochecha de Abbie e sentei-me ao seu lado, vendo a médica chegar e começar com umas falinhas mansas que me estavam a irritar. - tire-lhe a criança e pare de falar, ela tem dores - resmunguei.

Todas as mulheres passavam por isto, não era? E se não eram todas era grande parte. Por isso, eu também ia conseguir, certo? Certo. Engoli em seco, tentando virar-me de lado, mas as dores nas costas e por toda aquela zona eram tão fortes que eu não me consegui sequer mexer. Olhei para Kyle quando falou e vi a médica fazer o mesmo e apesar do seu espanto, ela manteve a calma.
- Eu não posso fazer nada agora, nem eu nem ninguém.- disse calmamente.- a única coisa que se pode fazer agora é esperar, tem de manter a calma.- esforcei-me por não gemer, para que Kyle não ficasse bem e apertei ligeiramente.
- Eu estou bem.- disse baixinho, de maxilar cerrado.

Cerrei o maxilar, apertando mais a mão de Abbie do que ela me apertava a mim e respirei fundo para não ir á boca daquela médica, dar-lhe uns murros. Não podia fazer nada? Como não podia fazer nada? Ela estava cheia de dores, ela conseguia pelo menos fazer alguma coisa para as acalmar. Dei-lhe uma festinha na barriga, tirando-a logo, estava tão diferente - Não estás não.

- Já falta pouco, já está quase pronta para ter a sua bebé.- assenti, passando a mão livre pela minha testa suada, olhando para Kyle quando o senti apertar-me muito a mão. Passei o polegar pela sua mão, tentando fazer com que ele mantesse a calma e vi a médica sair do quarto.
- Tem calma.- pedi baixinho, respirando fundo várias vezes para conseguir falar.- se quiseres vai até lá fora.- gemi baixinho.- eu fico..- não consegui terminar quando me deu uma pontada mais forte que me fez encolher toda aos gemidos. Eu queria conseguir parar para não o preocupar, mas era impossível.

Mordi o lábio enquanto médica ia embora e abanei a cabeça, estava a ficar irritado com isto tudo, fazia-me impressão ela estar com tantas dores e só de me lembrar do primeiro dia, da vez em que ela tinha desmaiado por causa de mim e do Jace, fazia-me apetecer vomitar.
-Não, eu quero estar aqui e eu estou calmo - passei a mão pela sua testa suada

Na esperança de que as dores parassem, ou se tornassem mais ligeiras, tentei sentar-me na cama, colocando algumas almofadas atrás das costas, mas mal as pontas voltaram em força, eu voltei a escorregar pela cama abaixo. Destapei-me toda, por causa do calor e apertei os lençóis nas minhas mãos, sentindo uma enorme pressão no meu ventre. Eu só queria que isto passasse, eu só queria que a minha filha nascesse. Um gemido brotou-me alto pelos lábios e eu agarrei-me à mão de Kyle, apertando-a.
- Ah.- gritei e levei uma mão à barriga, eu já não aguentava com tanta dor.