Kim's House

O meu peito subia e descia mais rapidamente que o normal e não era cansaço por estar a caminhar pela floresta em direção à cidade para roubar um carro ou o que fosse e ir para o mais longe possível dali, era porque estava prestes a chorar. Encostei-me a uma árvore quando não consegui controlar e comecei aos soluços, sentindo as minhas bochechas molhadas à medida que perdia o controlo como nunca antes tinha perdido. Endireitei-me, limpando as bochechas de seguida e continuei a andar.

Levantei-me não sei quanto tempo depois e andei até à comoda que havia na frente juntamente com um vidro. Agarrei numa taça que tinha em cima da mesma e atirei-a ao vidro que se despedaçou um por um e voltei a fazê-lo mais umas duas vezes. Era melhor do que sair para a rua para bater em alguém, ou sair à rua para procurar pela pessoa que tinha vindo até à minha casa perguntar por nós os dois. Cerrei o maxilar passando as mãos pelo cabelo e a minha mãe apareceu-me à frente vinda do nada e com os olhos assustados. - O que é que se passa Axl? - perguntou-me e eu voltei para trás andando de um lado para o outro. - Axl - gritou-me ela para me chamar a atenção.
-Ela foi-se embora - disse no mesmo tom.

Ainda era de noite quando cheguei à cidade pelo que não havia ninguém por ali. Aproximei-me de um carro e abri o mesmo como tinha sido ensinada em pequena. Sentei-me no lugar do condutor e fiz a ligação direta, ouvindo de seguida o barulho do motor. Pousei a mala no banco ao meu lado e fechei a porta arrancando dali para fora. Não podia voltar para a minha casa, ele ia procurar-me lá, tinha de fugir para outro sítio, ia apenas lá buscar todas as coisas que precisava e ir para a outra casa que os meus pais me tinham comprado. Precisava de me manter afastada do Axl apesar de isso me custar e precisava que os outros soubessem que eu já não estava com ele.

Depois da minha mãe me ter conseguido acalmar, deitei-me na cama agarrado à almofada como uma maria madalena e, apesar das suas tentativas de me ter perguntado o que tinha acontecido eu apenas encolhia o ombros. Não era justo, eu disse que queria estar com ela se nos encontrassem. Eu tinha dito que não me importava. Era só sairmos os dois... Eu percebia-a, ela não me queria afastar da minha família, mas ao mesmo tempo, começava a ficar realmente chateado por ela me ter deixado sem dizer nada. Puxei o lençol para cima de mim e pedi à minha mãe para que me deixasse em paz, já estava a odiar o facto de parecer uma menina, ainda por cima com ela a ver.

Abandonei o carro roubado longe de minha casa e fiz o resto do caminho a pé. Deixei lá a mala que tinha trazido por só ter roupa suja praticamente e agarrei noutro dos sacos de ginástica que tinha no meu roupeiro, já pronto com roupas para levar e sapatos. Fui até ao meu estúdio secreto apesar da outra casa também o ter e tirei umas quantas armas que precisava e que gostava para ter a mais e prevenir. Desci as escadas para a garagem e enfiei-me no carro, dirigindo para a casa nova.

Era um novo dia e eu mal tinha dormido, estava a passar pelas brazas quando o meu irmão, que já estava pronto para a escola, veio para cima da minha cama. - Axl - chamou ele acordando-me totalmente - onde está a Kim? - perguntou ele - ouvi a mãe dizer ao pai que ela tinha ido embora. - disse com uma expressão triste que me fez lembrar a noite de ontem. - Ela foi? - perguntou baixinho fazendo-me apenas assentir. - E vai voltar? - perguntei com um suspiro deitando-se o meu lado.
-Acho que não Tom - murmurei baixinho sentindo-o abraçar-me.

Assim que cheguei à minha casa nova que nem ficava muito longe da antiga, suspirei ao olhar em volta e reparar que as parecenças com a outra eram enormes, o que só me fazia pensar no Axl ainda mais. Deixei cair o saco de ginástica no chão do hall de entrada por já mal ter forças, mais psicologicamente que fisicamente mas uma coisa levava à outra, e arrastei o saco até ao meu quarto. Guardei o mesmo no roupeiro e tirei as armas, abrindo a porta secreta que havia atrás do espelho. Precisava de gastar as poucas energias que ainda tinha para cair na cama e não pensar nele.

-O que é que vais fazer agora? - perguntou-me a minha mãe enquanto tomava o pequeno almoço a sós comigo. Eu apenas encolhi os ombros. Normalmente com uma coisa destas acontecia eu só queria era voltar ao trabalho, mas agora tinha medo e nem isso me apetecia. Tinha medo porque, será que só por ela ter ido embora me iam deixar em paz? A mim e à minha família? E estava sem vontade, porque sentia-me pior que nunca. Sem ela e sem Xavier, tudo o que me restava era estar ali.
-Vou ficar uns meses por aqui e depois decido se vou para Milão. - encolhi os ombros.

*seis meses depois*
Tinham passado seis meses e mesmo assim as saudades que tinha do Axl e os pensamentos que tinha com ele não tinham desaparecido, nem por cinco minutos. Levantei-me da banheira, estiquei-me para a toalha e coloquei a mesma à volta do meu corpo, tirando de seguida a tampa da banheira para deixar a água escorrer. As únicas coisas que tinha feito nestes seis meses tinha sido treinar bastante e proteger-me, o que significava matar. Antes ainda tentava não fazê-lo porque sabia a opinião do Axl mas agora não me importava. Era por causa dessas pessoas que não podíamos estar juntos e era por isso que os matava e isso me dava tanto prazer.

*Seis meses depois*
Para passar estes seis meses sem ficar maluco de saudades de Kim tive que aprender a odia-la e ao que ela tinha feito, é claro que não a odiava a sério, apenas gostava de pensar que sim, porque só assim é que conseguia reprimir os sentimentos que ainda tinha. -Axl, não tens que ir já - disse a minha mãe, ela já se tinha habituado tanto à minha presença em casa que não me queria deixar ir outra vez para Milão. Tinha passado estes seis meses em casa para o caso de acontecer qualquer coisa a eles ou a mim, mas principalmente a eles, eu tinha que os proteger, já chegava de mortes e partidas na minha vida. Sem Kim ao meu lado para me fazer esquecer as coisas, pensava cada vez mais em Xavier e no dia em que tinha morto o homem que o tinha assassinado, e precisava de esquecer isso de alguma forma. Tinha recebido uma proposta vinda de Milão para uma coisa nova e esperei uma semana para aceitar. Eles iam ficar bem e já tinha dito que ia telefonar todos os dias. Desta vez ia mesmo.

Olhei para dentro do frigorífico e cheguei à conclusão que precisava de ir às compras. Nestes últimos seis meses tinha perdido peso, tinha comido muito menos e treinado muito mais, pelo que estava mais magra mas continuava com músculo. Na vinda do supermercado, passei por um pequeno quiosque e parei ao ler as letras gordas da capa de uma revista "Axl Grant volta em trabalho para Milão depois de tanto tempo desaparecido". Paguei a revista à mulher e voltei para casa, deixando os sacos do hall de entrada e fui para o sofá, ler o que a revista dizia. Pelo menos a minha ida tinha-o deixado bem e à família dele. "Bem".

A minha mãe não me queria deixar ir e muito menos o meu irmão por isso não foi fácil entrar no avião assim do nada, mas quando cheguei e fui diretamente para a empresa que me tinha feito a proposta e senti-me mais feliz. Já há muito tempo que não trabalhava e pelo menos isso conseguia distrair-me de tudo. Na primeira semana comecei com os testes e só depois é que começaram as sessões a sério que ainda iam durar longos meses.

*mais seis meses depois*
Achava que ao afastar-me do Axl tinha o deixado e à família seguros mas essa minha ideia tinha ficado de lado no momento em que fontes seguras me tinham dito que pessoas que não deviam andavam em Milão de olho no Axl com esperanças que eu voltasse para ele e aproveitarem esse momento para lhe fazer mal e me obrigarem a juntar-me a eles. Não ia deixar isso acontecer e a ideia de matar mais nojentos desses só me deu mais vontade de fazer a minha mala e comprar uma passagem de avião para Milão.

-Foste muito boa lá atrás - disse a Tiffany que era uma novata e se tinha estreado comigo - tens a certeza de que foi a tua primeira vez? - perguntei e ela fez logo um sorriso maroto.
-Conforme do que estejas a falar - revirei os olhos com um sorriso e voltei a olha-la vendo-a encolher os ombros - sim, a minha mãe nunca concordou muito com este trabalho mas eu acho que tenho talento - disse ela com um sorriso. Vesti o robe que me estendiam, podiam pensar que não, mas modelos fotográficos, e não só, sofriam, tinha estado praticamente lá fora com o frio que estava. Passei as mãos pelos meus braços e sorri a Tiffany.
-Vou buscar café para os dois.
-Obrigada. - sorriu.